20 de novembro de 2021

Bixiga : uma pequena África em São Paulo

 

O Bixiga,situado na região central de São Paulo,é um dos bairros paulistanos mais tradicionais.

 

A história

 

Os primeiros registros de ocupação dessa área são do século 16 como Sítio do Capão.Por volta de 1820,o sítio passou para um homem chamado Antonio Bexiga.Ele tinha esse nome  por conta das marcas de varíola na sua pele.Essas marcas eram popularmente conhecidas como bexigas.Daí a origem do nome do bairro que,com o tempo,virou Bixiga.

Durante o longo período da escravidão,essa área era utilizada como esconderijo de escravos negros em fuga.Onde hoje se localiza o Largo da Memória,próximo à Praça da Bandeira,havia  um mercado de escravos.Alguns conseguiam fugir e se embrenhar pelas matas ciliares do Rio Saracura,dando origem a um dos primeiros quilombos do Brasil : o Quilombo da Saracura.  

No final do século XIX, com a crescente corrente imigratória em direção à São Paulo acompanhada pela expansão do perímetro urbano nessa direção, o bairro do Bixiga passou também a acolher grande parte dos imigrantes italianos que se fixaram na capital paulista.

A partir da década de 1950, com a intensificação das correntes migratórias internas no Brasil, o Bixiga foi um dos bairros escolhido por muitos trabalhadores nordestinos que vieram morar em São Paulo.

Por tudo isso o Bixiga é hoje um bairro marcado por uma grande diversidade cultural,sendo um erro dizer que é o bairro dos imigrantes italianos e seus descendentes.

 

O Bixiga Negro



 

Infelizmente,boa parte das construções do povo negro no Bixiga foi destruída,assim como boa parte da sua história foi apagada.Mas eles ainda estão lá lutando pela preservação do seu patrimônio ,da sua cultura e das suas tradições. Flanar pelo Bixiga hoje é cruzar com os descendentes dos quilombolas e passar pelos seus lugares que resistem até hoje :

 

1) Escola de Samba Vai-Vai

Fundada em 1930,o Grêmio Recreativo,Cultural e Social Escola de Samba Vai-Vai é uma das maiores agremiações carnavalescas do Brasil e a maior campeã do Carnaval de São Paulo com 15 títulos e 10 vices campeonatos.

Durante mais de 50 anos manteve a sua sede na Rua São Vicente 200/270.Em setembro de 2021 teve que deixar o terreno que será utilizado para a construção de uma estação da linha 6 Laranja do Metrô.




2) Paróquia Nossa Senhora da Achiropita

Fundada em 1926 por imigrantes italianos,a igreja possui um grupo da Pastoral Afro.Esse grupo nasceu em 1988,por ocasião do centenário da abolição da escravidão negra no Brasil.Tem como objetivo,através das celebrações,resgatar as raízes africanas e valorizar a sua cultura. A partir da leitura da experiência de Deus na Comunidade Negra e baseada no princípio da inculturação,a pastoral procura inovar as práticas litúrgicas e a vivência fraterna com todos os povos.



 

3) Casa Mestre Ananias

Fundado em 2007,o centro cultural Casa Mestre Ananias é um reduto que defende a preservação das culturas orais e a ancestralidade afro-nordestina por meio da capoeira.Localizada na Rua Conselheiro Ramalho 939,a Casa Mestre Ananias oferece os cursos de rabeca, pilates e samba de roda, sendo os dois últimos voltados para a terceira idade; artes, culinária, cerâmica, teatro e capoeira para jovens de até 17 anos.A única atividade paga é a aula de capoeira para adultos. O espaço funciona sem nenhum apoio, público ou privado, e é mantido apenas com o dinheiro arrecadado na venda de camisetas, CDs, bolsas e outros artigos, além das festas anuais,entre essas a de Cosme e Damião em setembro.Em todas elas é servido um almoço para a comunidade do bairro regado por muita música regional, como o samba, a embolada, o forró e o caruru.



 

4) Rua 13 de Maio

Em 13 de maio de 1888 foi assinada a Lei Áurea que aboliu a escravidão no Brasil.Os negros do Bixiga comemoravam esta data na capela existente no Largo São Manuel (entre as ruas Una e Rocha),que acabou sendo demolida no início do século 20.Eles passaram então a comemorar na Rua Celeste,que em 1916 teve o seu nome alterado para 13 de Maio.

Atualmente,nesta data, Bloco Afro Ilú Oba De Min promove uma lavagem na Escadaria do Bixiga,localizada na mesma rua.Em seguida sai em cortejo até a Paroquia Nossa Senhora da Achiropita,localizada no número 478.







 
Fotos : 1,3,4 e 5 Izabel Heitor 
            2 Google Imagens.
.
.

9 de novembro de 2021

Parque Augusta : de palacete à área verde.

 

O Parque Augusta,também chamado de Parque Bruno Covas em homenagem ao ex prefeito de São Paulo morto em 2021,vítima de câncer,possui  uma área de 23.000 metros quadrados e se  localiza na confluência das Ruas Augusta com Caio Prado e Marquês de Paranaguá, no bairro de Cerqueira César, próximo ao centro da cidade de São Paulo.



A história

 

No início do século XX  foi construído, no local, um palacete pertencente à família Uchôa.

Em 1906, o imóvel foi vendido para as Cônegas de Santo Agostinho que utilizaram o palacete  para inaugurar, em 1907, o Colégio Des Oiseaux. O Colégio encerrou suas atividades em 1969.

Entre 1970 e 1974,o prédio foi sede do Colégio Equipe.

Em 1974, o prédio foi demolido para a construção de um empreendimento hoteleiro que foi desativado.




O terreno foi transformado em estacionamento e, na década de 1980, abrigou o Projeto SP, que promoveu apresentações de diversas bandas como Capital Inicial, Blitz, Titãs, Paralamas do Sucesso, entre outras, em sua estrutura coberta por lona, como se fosse um circo.

Em 1996, o terreno foi adquirido pelo ex-banqueiro e incorporador Armando Conde.

 

O tombamento

 

Em 1994 a vizinhança do parque iniciou um movimento visando o tombamento da área.

O terreno do Parque Augusta só foi definitivamente tombado,pela prefeitura, em 2004.

 A partir daí a área passou a ter proteção legal que implicava a prévia autorização do Conpresp para qualquer intervenção física no local.

Em 2006, a pedido da SAMORCC - Sociedade dos Amigos, Moradores e Empreendedores do Bairro de Cerqueira César, começou a tramitar na Câmara Municipal de São Paulo, o projeto de lei 345/2006, de autoria dos vereadores Juscelino Gadelha e Aurélio Nomura, que propunha a criação do Parque Municipal Augusta na totalidade do terreno.

Em 2013,surgiu o Movimento Parque Augusta. Após intensas pressões dos movimentos sociais, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou, em duas votações, o Projeto de Lei 345/2006 e enviou a Lei Ordinária Municipal 15.941 ao prefeito Fernando Haddad, que a sancionou em 23/12/2013.

A escritura do Parque Augusta foi finalmente passada para a Prefeitura de São Paulo em 6 de abril de 2019.

 

O processo judicial

 

Em 2015, o CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), aprovou a construção de prédios no Parque Augusta.No mesmo ano, o Ministério Público Estadual de São Paulo, determinou que as indenizações (cerca de R$ 120 milhões) pagas à Prefeitura de São Paulo pelos bancos UBS, CITIBANK e DEUTSCH por conta dos recursos públicos desviados pelo prefeito Paulo Maluf durante obras da Avenida Roberto Marinho (antiga Águas Espraiadas) deveriam ser usadas para viabilizar o Parque Augusta sem prédios.

Diante da demora da prefeitura de São Paulo em cumprir a lei 15.941, ativistas ocuparam e limparam o terreno do Parque Augusta e o abriram à população paulistana com a oferta de várias atividades auto-gestionadas.No dia 4 de março houve a reintegração de posse do Parque Augusta.No dia seguinte, as Construtoras Cyrela e Setin perfuraram as calçadas do entorno do Parque Augusta, com a intenção de levantar tapumes. Esta manobra foi denunciada pelos ativistas defensores do Parque Augusta e as construtoras foram multadas.



Em 2016,o Ministério Público do Estado de São Paulo exigiu que a área fosse entregue à prefeitura de São Paulo, em virtude de dívidas oriundas do não pagamento das multas pelo fechamento indevido do Parque Augusta.

Em 2017,a prefeitura  recebeu a proposta do Ministério Público do Estado de São Paulo de realizar permuta com outros terrenos públicos para viabilizar o cumprimento da Lei 15.941.Foi selado,então,um acordo entre a Prefeitura, o Ministério Público e as construtoras Cyrela e Setin, proprietárias do terreno.

 

A construção

 

No fim de outubro de 2019 começaram as obras para implantação do Parque Augusta.

O projeto foi elaborado pelo arquiteto Samuel Kruchin.

Em 2020 houve algumas polêmicas em relação às obras.O IPHAN descartou a presença de vestígios arqueológicos que apontassem para a presença de populações indígenas no local,mas  encontrou louças e artefatos do fim do século XIX.A pandemia de coronavírus também atrasou o andamento das obras.



Após muitos anos de luta,finalmente o Parque Augusta foi inaugurado no dia 6 de novembro de 2021.

 

O Parque Augusta 





O Parque Augusta possui  5 acessos: 2 pela Rua Caio Prado, 2 pela Rua Augusta e 1 pela Rua Marquês de Paranaguá.

Seu horário de funcionamento é das 5 às 21horas,todos os dias.

Conta com aparelhos de ginástica, brinquedos, cachorródromo, redário, trilhas para caminhadas,arquibancadas e palco para apresentações,bosque de mata nativa,gramado e sítio arqueológico.



Não há pista de corrida.Também não é permitido o uso de skates,patins e bicicletas.Mas quem chega de bike encontra lugar para estaciona-la.

O parque possui total acessibilidade e infraestrutura de sanitários,bebedouros e bancos.




Não existem locais de venda de bebidas e alimentos.Também não há quiosques,mesas e churrasqueiras.O espaço é mais apropriado para piqueniques.

Duas construções antigas foram restauradas: o portal de entrada, na Rua Caio Prado, e a Casa das Araras, que vai abrigar atividades educativas e exposições.




O levantamento da fauna mostra a existência de 21 espécies de aves silvestres. O bosque é formado por dezenas de espécies nativas ou exóticas. Muitas delas estão identificadas.


São Paulo não precisa de mais prédios.São Paulo precisa de mais áreas verdes : parques,praças,jardins de chuvas,árvores,etc.Levando-se em conta que o Parque Augusta é o fruto de uma longa e difícil luta dos moradores da região contra as empresas construtoras e imobiliárias e a prefeitura,ele acaba assumindo uma importância ainda maior para a cidade de São Paulo.Que venham outros parques.

 

Fontes : Wikipédia , A vida no Centro e ida ao campo. 

Fotos :  1,5,6,7 e 8 Izabel Heitor 

              2,3 e 4   Google Imagens.

.

.